quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ser! Ou parecer?

O Ministério da Cultura encontra-se ausente. Ora, em face da vasta intelectualidade portuguesa existente, lá se insurge a azia de alguns (que se dizem) cultos, cultivados pelas suas bibliotecas pessoais de prateleira vazia. Já o génio de Pessoa decompunha o fenómeno do provincianismo “civilizado” do Portugal profundo, prescrevendo como terapêutica a simples assunção da sua existência. Volvida a centúria, esse “mais do que ser, parecer” prevalece, mas ao que parece, não se conhece. Assim, fingimos (fotogenicamente) que precisamos de um Ministério, com a respectiva comitiva (ministro, assessores, secretários, motoristas e saberá o Orçamento mais o quê), exigindo-o sem querer pagar essa procissão! Reivindica-se o serviço, desdenhando-se a conta! Isto num país que pontua pelos seus índices de leitura transbordantes, que impressionam (pelo stock de livros por vender), para mais não falar de teatros que até fazem eco, de tão cheios que estão! Venha então a procissão, a doutrina e a reza dos papa-figos, esperando-se que as subvenções para financiar a oferta sem procura, resultem, logo ao nascer do sol, em um milagre fértil de cultura… podendo-se então, aproveitar o dia, todos na praia, de toalha estendida.       

Carlos M. G. Martins 





Publicado (dia 19/08/2011) no Jornal i