sexta-feira, 6 de maio de 2011

“Mercado” Eleitoral

Ninguém hesita em diagnosticar que Portugal está enfermo, porém a questão de fundo permanece em branco. Aquando de uma campanha eleitoral, quantos eleitores destrinçam o percurso (mérito e competência) tanto profissional, como académico dos potenciais deputados e membros do Governo?


A oferta apresentada ao mercado eleitoral reduz-se a um jogo onde se gladiam a retórica, a aparência, a forma. Não obstante o oligopólio partidário vigente, continua a ser a procura que determina a oferta, cabendo em último termo, ao eleitor a escolha de paradigma que molda a captação de indivíduos para os mais altos órgãos da nação. Destarte, importa reter que o (indivíduo) mediano não nos serve e com o actual arquétipo são raras as vezes em que essa barreira é ultrapassada. Assim é porquanto, em geral, somos um povo consabidamente pouco produtivo, de fraca ética e método de trabalho (os resultados económicos hodiernos assim o ditam).

    
Só os melhores interessam e à priori, não creio existir mecanismo mais eficiente para avaliar em que condições se encontra o candidato para o melhoramento do panorama global, do que acalentar o juízo de competência na gestão da sua vida académica e profissional. Assim se faz no sector privado, tornando-se imperioso o fazer no sector público! Escolheria algum daqueles candidatos para gerir a sua empresa, assuntos contabilísticos, salários? Bom, a verdade é que através de uma eleição o está a fazer.

Convido a reflectir comparando as credenciais académicas de Merkel (doutorada em física com distinção pela prestigiada Universidade de Leipzig) e Sócrates  (“licenciado” em engenharia civil pela extinta Universidade Independente). Há coisas que fazem a diferença. 
    


Carlos M. G. Martins


Publicado no Jornal de Leiria a 26 de Maio de 2011

domingo, 1 de maio de 2011

Sociedade e Cidadania... Frontalidade na franqueza ou companheirismo delirante pela fraqueza?

"Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender " por Alexandre Herculano(1810-1870)



A perspectiva do “eu”

Ignorar a crítica – enfrentá-la enquanto vidro distorcido da realidade, como estilhaços acutilantes que acometem um orgulho auto-nutrido, é um passo dado em sentido do erro (individual) histórico. Tal erro, marca pela leviandade pueril de quem olvida (ou faz-se esquecer) de que o erro é parte indispensável da aprendizagem e da estrutura-conformação da mundividência individual, como fere e corrompe o cerne do padrão comportamental, impedindo-o que (num processo que se deseja ininterrupto) desenvolva positivamente.

O prisma do “tu”

O erro, dadas as intermináveis perspectivas de interpretação de um mesmo facto, é concludentemente subjectivo. De tal forma que uma acção levada a cabo por indivíduo x, considerada errática por y, por força de alterações das circunstâncias em que este se insere, seja apontada pelo mesmo sujeito y como certeira e até mesmo aplausível.

Com efeito, para acontecimento determinado existem, ao menos duas interpretações possíveis e, as mais das vezes, a variedade de versões é incomensurável. A crítica fácil para efeitos de “formar conversa” mina as relações, a confiança e incentiva a postura de não aceitação permanente dos laivos erróneos que naturalmente envolvem o comportamento de cada um. Ponto é: julgar sem o devido distanciamento, procurando abstratizar e incorporar a acção num sistema de desenvolvimentos e factores em um ambiente condicionador, consiste na crítica fácil, estéril, inócua, que mais não faz do que proporcionar uma linha de conversação fugaz, todavia potencialmente danosa.

Voltemos ao “eu” – foquemo-nos em “nós”     

De certo que a frontalidade tem um efeito regenerador , potenciando o crescimento, desde que a crítica se mova pelo móbil de construir. Não obstante, será a medida – capacidade de encaixe no acolhimento, aceitação, e reflexão da mesma , livre de represálias ou destrinça de razões para justificar o indefensável, que determina se aquela louvável e preferível postura de frontalidade será repetida, ou por abstenções infrutíferas, ou elogio de companheirismo delirante, substituída.

Para mais, o erro tem algo de muito objectivo. Encontra-se presente em todos nós. Por conseguinte, aquando de um impulso de crítica a qualquer acto, importa indagar qual o circunstancialismo que o envolve, acercando às razões que podem ter arreigado a escolha do agente seu autor. Quiçá, aquilo que à primeira se afigurava reprovável se torne, perante factores idênticos, um procedimento perfeitamente compreensível. A tolerância, neste quadro, reconduz-se a isto mesmo.

Da frontalidade-franqueza, erradicadas as sofismas, beneficiamos todos. Viver em constante negação de evidências impede o processo de melhoramento pessoal (e inevitavelmente o enriquecer colectivo) paulatino. Tornar-se-á um “porto sem-abrigo”, um terreno fértil na multiplicação de vícios, perdendo oportunidades de recuperar e angariar virtudes.

Assim, sejamos frontalmente construtivos. Aceitemos a crítica. Seremos melhores.  

Carlos M. G. Martins