quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ser! Ou parecer?

O Ministério da Cultura encontra-se ausente. Ora, em face da vasta intelectualidade portuguesa existente, lá se insurge a azia de alguns (que se dizem) cultos, cultivados pelas suas bibliotecas pessoais de prateleira vazia. Já o génio de Pessoa decompunha o fenómeno do provincianismo “civilizado” do Portugal profundo, prescrevendo como terapêutica a simples assunção da sua existência. Volvida a centúria, esse “mais do que ser, parecer” prevalece, mas ao que parece, não se conhece. Assim, fingimos (fotogenicamente) que precisamos de um Ministério, com a respectiva comitiva (ministro, assessores, secretários, motoristas e saberá o Orçamento mais o quê), exigindo-o sem querer pagar essa procissão! Reivindica-se o serviço, desdenhando-se a conta! Isto num país que pontua pelos seus índices de leitura transbordantes, que impressionam (pelo stock de livros por vender), para mais não falar de teatros que até fazem eco, de tão cheios que estão! Venha então a procissão, a doutrina e a reza dos papa-figos, esperando-se que as subvenções para financiar a oferta sem procura, resultem, logo ao nascer do sol, em um milagre fértil de cultura… podendo-se então, aproveitar o dia, todos na praia, de toalha estendida.       

Carlos M. G. Martins 





Publicado (dia 19/08/2011) no Jornal i

sexta-feira, 6 de maio de 2011

“Mercado” Eleitoral

Ninguém hesita em diagnosticar que Portugal está enfermo, porém a questão de fundo permanece em branco. Aquando de uma campanha eleitoral, quantos eleitores destrinçam o percurso (mérito e competência) tanto profissional, como académico dos potenciais deputados e membros do Governo?


A oferta apresentada ao mercado eleitoral reduz-se a um jogo onde se gladiam a retórica, a aparência, a forma. Não obstante o oligopólio partidário vigente, continua a ser a procura que determina a oferta, cabendo em último termo, ao eleitor a escolha de paradigma que molda a captação de indivíduos para os mais altos órgãos da nação. Destarte, importa reter que o (indivíduo) mediano não nos serve e com o actual arquétipo são raras as vezes em que essa barreira é ultrapassada. Assim é porquanto, em geral, somos um povo consabidamente pouco produtivo, de fraca ética e método de trabalho (os resultados económicos hodiernos assim o ditam).

    
Só os melhores interessam e à priori, não creio existir mecanismo mais eficiente para avaliar em que condições se encontra o candidato para o melhoramento do panorama global, do que acalentar o juízo de competência na gestão da sua vida académica e profissional. Assim se faz no sector privado, tornando-se imperioso o fazer no sector público! Escolheria algum daqueles candidatos para gerir a sua empresa, assuntos contabilísticos, salários? Bom, a verdade é que através de uma eleição o está a fazer.

Convido a reflectir comparando as credenciais académicas de Merkel (doutorada em física com distinção pela prestigiada Universidade de Leipzig) e Sócrates  (“licenciado” em engenharia civil pela extinta Universidade Independente). Há coisas que fazem a diferença. 
    


Carlos M. G. Martins


Publicado no Jornal de Leiria a 26 de Maio de 2011

domingo, 1 de maio de 2011

Sociedade e Cidadania... Frontalidade na franqueza ou companheirismo delirante pela fraqueza?

"Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender " por Alexandre Herculano(1810-1870)



A perspectiva do “eu”

Ignorar a crítica – enfrentá-la enquanto vidro distorcido da realidade, como estilhaços acutilantes que acometem um orgulho auto-nutrido, é um passo dado em sentido do erro (individual) histórico. Tal erro, marca pela leviandade pueril de quem olvida (ou faz-se esquecer) de que o erro é parte indispensável da aprendizagem e da estrutura-conformação da mundividência individual, como fere e corrompe o cerne do padrão comportamental, impedindo-o que (num processo que se deseja ininterrupto) desenvolva positivamente.

O prisma do “tu”

O erro, dadas as intermináveis perspectivas de interpretação de um mesmo facto, é concludentemente subjectivo. De tal forma que uma acção levada a cabo por indivíduo x, considerada errática por y, por força de alterações das circunstâncias em que este se insere, seja apontada pelo mesmo sujeito y como certeira e até mesmo aplausível.

Com efeito, para acontecimento determinado existem, ao menos duas interpretações possíveis e, as mais das vezes, a variedade de versões é incomensurável. A crítica fácil para efeitos de “formar conversa” mina as relações, a confiança e incentiva a postura de não aceitação permanente dos laivos erróneos que naturalmente envolvem o comportamento de cada um. Ponto é: julgar sem o devido distanciamento, procurando abstratizar e incorporar a acção num sistema de desenvolvimentos e factores em um ambiente condicionador, consiste na crítica fácil, estéril, inócua, que mais não faz do que proporcionar uma linha de conversação fugaz, todavia potencialmente danosa.

Voltemos ao “eu” – foquemo-nos em “nós”     

De certo que a frontalidade tem um efeito regenerador , potenciando o crescimento, desde que a crítica se mova pelo móbil de construir. Não obstante, será a medida – capacidade de encaixe no acolhimento, aceitação, e reflexão da mesma , livre de represálias ou destrinça de razões para justificar o indefensável, que determina se aquela louvável e preferível postura de frontalidade será repetida, ou por abstenções infrutíferas, ou elogio de companheirismo delirante, substituída.

Para mais, o erro tem algo de muito objectivo. Encontra-se presente em todos nós. Por conseguinte, aquando de um impulso de crítica a qualquer acto, importa indagar qual o circunstancialismo que o envolve, acercando às razões que podem ter arreigado a escolha do agente seu autor. Quiçá, aquilo que à primeira se afigurava reprovável se torne, perante factores idênticos, um procedimento perfeitamente compreensível. A tolerância, neste quadro, reconduz-se a isto mesmo.

Da frontalidade-franqueza, erradicadas as sofismas, beneficiamos todos. Viver em constante negação de evidências impede o processo de melhoramento pessoal (e inevitavelmente o enriquecer colectivo) paulatino. Tornar-se-á um “porto sem-abrigo”, um terreno fértil na multiplicação de vícios, perdendo oportunidades de recuperar e angariar virtudes.

Assim, sejamos frontalmente construtivos. Aceitemos a crítica. Seremos melhores.  

Carlos M. G. Martins

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Revolução… que não foi. A mão da História ergue o martelo da Justiça













Cumpridos trinta e sete anos da proclamada “revolução dos Cravos”, importa fazer uma brevíssima retrospectiva, olhando para o que foi feito (e especialmente desfeito). No fundo para o que é Portugal, e o que não foi, mas que porém até poderia ter sido.


O Circunstancialismo histórico:

Desmistificando o tom revolucionário que reveste esta data, avance-se que foram os militares, instigados pela polémica integração/acesso no quadro permanente do exército pelos oficiais milicianos (civis, recrutados, dotados do 12º ano de escolaridade) à revelia dos “oficiais de carreira”, bem assim, a ausência de solução política para o problema africano que não significasse a continuidade de uma guerra obsoleta (mas longe de perdida), que impulsionaram o desenvolver de todo um processo, que avançando para a criação do Movimento dos Capitães, culminou na conhecida data. Hoje (por cada vez menos) celebrada. A adesão popular após ao Golpe Militar veio simplesmente reiterar um percurso caminhado em 1926, no 28 de Maio, que desferiu o golpe final na (terrorista) I República. Aí, não só o “povo” apoiou o golpe, como fez questão de solicitá-lo. Ainda assim a história não fala (e bem!) de Revolução de 28 de Maio de 1926.

Análise objectiva da economia e finanças públicas:

O regime político não pode sustentar a sua continuidade se a “infra-estrutura” (designação de Economia para Marx) não for constantemente dando provas de desenvolvimento e melhoramento.

Vejamos quanto às finanças públicas da I República ao Estado Novo:

→ O Estado Novo herdou da I República um país financeiramente dependente, com   um  endividamento descontrolado (déjà vu).  Em 1923 a dívida pública fixava-se em 87% do PIB, que viria a reduzir-se a 33% em 1945. Em período análogo a dívida pública externa foi reduzida de 62% para 2,8% do PIB!

(E quanto à economia? )

→ Criando assim condições de crescimento sustentado da economia que em cerca de 4 décadas teria uma média de crescimento anual aproximado do PIB de 6% ao ano. Assinalem-se os anos de 1962, 1965, 1971 e 1972, com números nunca vistos, e até hoje, jamais repetidos (mesmo com as “injecções comunitárias”), de crescimento anual do PIB, em termos percentuais, na ordem dos 10%-11%!

Alguns exemplos de infra-estruturas de peso construídas durante o Estado Novo:

- Aeroporto da Portela (com projectos iniciados no final da década de 60 para a construção de um novo aeroporto);

- “Metro” de Lisboa;

- Ponte sobre o Douro;

- Ponte Sobre o Tejo (originalmente Ponte Salazar, mas como o próprio anteviu, pós-mortem denominada Ponte 25 de Abril);

- Maior e melhor Universidade (Angola/ Hospital (São Tomé) / Barragem (Moçambique) no continente africano;

- Programa amplo de reconstrução/reabilitação do património monumental português.

Muitos são os que avançam o argumento de que Salazar foi demasiadamente poupado, deixando os cofres cheios de ouro mas ao mesmo tempo o povo na miséria. Pois muito bem, imaginando que tais afirmações correspondem à verdade, aqueles que seguiram ao Estado Novo dispunham de circunstâncias de excelência para desenvolver o país, pois as condições de liquidez financeira e o impulso económico estavam no seu “prime”. Mas o que ocorreu “camaradas” foi o esvaziamento dos cofres do Estado, o enriquecimento precoce e fugaz de muitos, e o abastecimento permanente de um pequeno número de indivíduos (o mais favorecido ainda hoje discursou enquanto ex-PR).  

Foquemo-nos no actual regime:

Finanças Públicas:

Hoje, o maior endividamento desde que há registos em Portugal! Terceira “visita” a convite interno (claro!) do FMI em 37 anos!

Economia?

De 1974 a 2009, a economia portuguesa cresceu em média 2,8 % ao ano.

Convenhamos… Foram dados muitos passos, superiores àquilo que as nossas próprias pernas permitiam.

Palavras para quê? Os factos servem para ser comparados.

Liberdade
A maior (derradeira e indefensável) falha do Estado Novo foi a opção pela prevalência excessiva de uma política de segurança preventiva que limitou a liberdade da crítica e de expressão contrária. Todos conhecemos o situacionismo que rodeia a PIDE e o Tarrafal, e nenhum de nós o aplaude.
Permitam que, todavia, faça um reparo à liberdade desta nossa democracia pueril, assente em maquiavélicos maniqueísmos. O período de transição da II para a III República pautou-se por tudo menos a democracia, e a liberdade de respeitar os demais. Quantos perderam o seu emprego, foram vedados a oportunidades, viram ser retiradas suas propriedades (fruto de esforços de gerações), ou foram até mesmo exilados? Quantos de nós podemos, em 2011, demonstrar simpatias por ideias que não pertençam à linha de pensamento massificado sem esperar represálias?

Rosas do mesmo calvário
Para mais não falo da decadência do da capacidade produtiva agrícola e piscatória; das empresas que fecharam, das elites que fugiram do aclamado PREC; dos excessivos feriados, de um código laboral horripilante, da criação de um tecido empresarial do Estado extremamente corrompido, da deterioração do ensino que acometem a produtividade na Nação. Abstenho-me de mencionar sequer o percurso de descolonização (assassina) preconizada por Mário Soares e companhia. Para muitos uma figura do regime actual… Pessoalmente, um dos maiores traidores que caminharam neste rectângulo “ingovernável”.

A mão da História ergue o martelo da Justiça
Ainda será feita justiça pois a história tratará de rasgar o véu da manta marxista que cobre a educação portuguesa. Se assim for, contemplarei tal efeito com agrado. Afinal, ao que parece, desde 1974 que se confundem “heróis” com traidores. 



Carlos M. G. Martins

domingo, 17 de abril de 2011

Sociedade e Cidadania... O Mérito, parente pobre da nossa democracia, que na penúria se desvanece e pela ébria fobia das “elites” políticas perece.

O distanciamento dos capazes, com provas dadas, convictos e fundados em valores de seriedade, competência, esforço, transparência e mérito, deve-se à circunstância que reduz a política nacional a um joguete de politiquice barata manuseado por indivíduos mestres (leia-se, doutorados!) na ilusão, intriga e retórica destituída de conteúdo, inviabilizadora de caminhos exequíveis a percorrer.


Por favor acompanhe-me neste raciocínio:

A maior parte de nós prefere a mentiraa proposta descabida que todavia apraz ao ouvido, i.e., ao bolso do eleitor, do que a verdade que não convém. Com efeito, aqueloutros agentes que falam sem floreados tendenciosos, nem tão-pouco almejam um “cargo público de salvação pessoal”, salientando vicíos públicos e malefícios societários para que possam ser expurgados, são entusiástico-cirurgicamente enxovalhados, adjectivados e descredibilizados até ao dia em que a verdade inconveniente se torna demais evidente para ser ocultada com o véu da incompetência dos intocáveis políticos profissionais (prova empírica é o Dr. Medina Carreira).

Mas pense comigo:         

Sendo um particular com uma vida profissional estável e bem sucedida, por via da sua competência profissional, instigada pelo conseguimento académico meritório, irá colocar em risco tudo isto para se experimentar na vida partidária, para mudar o que considera inaceitável? Deixará o seu flanco aberto para que outros, frustrados profissional e academicamente e nos blocos partidários instalados, o ataquem apoquentados com a sua vinda, que coloca em causa a sua hegemonia?

As mais das vezes, presumo, a resposta será não.  O dia a dia o confirma.

Esta é a praxis que mina todo o Poder Executivo e Legislativo, do Estado Central às juntas de freguesia.



Note-se bem, os partidos da, até hoje, santificada “abrilada” são um ninho de ineptos (salvo pontuais honrosas excepções), pessoas que esquadrinham a auto-promoção e afirmação pela projecção que os cargos políticos, que os “poleiros” públicos proporcionam.

 O mérito não entra nas sedes partidárias, apenas a clubite cega, o favor, a cunha, o convénio por uma ajuda em troca de outro empurrão. “Gladiam-se coadjuvando-se” em busca do assalto ao poder (aos cofres do Estado, ao rendimento do contribuinte).     

As estruturas partidárias não devem ser vislumbradas como “catapultas sociais”, direccionadas por aqueles que disputam o prémio de maior bajulador ou demagogo, mas isto sim: Avenidas ao serviço público e nacional, por parte dos indivíduos que emanem potencial capacidade para a utilidade, desenvolvimento sustentado da sociedade.

Será uma falácia tremenda legitimar democraticamente, eleger em que plano for, um qualquer indivíduo que não tenha dado provas profissionais ou académicas de competência! Ademais, preferência seja dada aos laivos de brilhantismo. Ao menos deixa indicações de que geriu a sua vida particular de forma competente. De contrário, nem isso!  
A palavra de ordem tem que ser Mérito! Prova no terreno da qualidade e não atrás de um microfone prometendo, depois não cumprindo, e posteriormente desresponsabilizando.





Breve nota:

Alguns propõem a adaptação, rumo à mudança, mas apenas quando se chegar ao topo… Mas que dignidade nesse procedimento resta para depois apregoar algo que não foi praticado, com o qual, hoje, se afirma não concordar e veemente repudiar?  




Carlos M. G. Martins

sábado, 19 de março de 2011

Entretanto… Alegre-mente marchamos, ao ritmo da pauta preambular constitucional, a caminho do socialismo!


Sindicalização, lucrando onde as ideias escasseiam.
                
                Fruto do sistema educativo em que a minha geração foi concebida, os pensamentos e comportamentos revolucionários parecem vincar os padrões de pensamento. O protesto pode ser projectado nas mais variadas formas e o resultado obtido será aquele cujo meio escolhido possibilitou. Toda a manifestação massificada por muita suposta reflexão que a fundamente, nunca se justificará caso não se olhe para as causas da semente desse descontentamento que coloca à deriva todo um país. Ignorar soluções enquanto se embate de fronte e incessantemente (com a cabeça na parede), contra o problema, será como comprar uma arma para dar tiros nos próprios pés.

                A palavra de ordem é, pois então, exigir… palavra escolhida pelos dirigentes sindicais para reforçar a ideia de que os seus tão protegidos trabalhadores têm uma “força” imparável contra os temíveis “patrões”(que, enfim, lhes dão emprego, mas claro, para os “tubarões sindicais” que querem é sangue, isso é algo de pouca relevância).  Exigir melhores condições, salários, bem como, mais emprego e sobretudo lutar contra a (palavra fetiche) precariedade.

O socialismo empírico português:
            
    Comecemos com a ironia das ironias, os Homens da Luta! Numa jogada que espelha a mestria no que ao Markting diz respeito, utilizando as suas personagens humorísticas, aproveitam a onda de descontentamento e sublevação para fazer “render o peixe”. Coincidência das coincidências, fazem poucos meses da entrada nas lojas do seu C.D. Qual melhor forma de publicidade gratuita que estas manifs? Apelando à revolução, à luta, ao vazio de ideias. Isto é que eu chamo artistas com olho para o negócio disfarçados de comunistas. Avante camaradas!



Esta “geração à rasca” fez reavivar as memórias e saudades nostálgicas de muito “bom” comunista de caviar, saudosista do PREC. Por ironia do destino, essa (a minha) geração sofre muito por culpa do que aí (nesse Processo Revolucionário em Curso) foi iniciado: uma autêntica caça a todos os empresários, e a construção da ideia (tão errada, injusta e hipócrita) de que todo o homem de negócios que alcança lucro e sucesso, é um “capitalista explorador do proletariado oprimido”, “um verme que absorve o suor dos seus escravos modernos”. Do testemunho que me vai sendo transmitido, e do prazer que tenho em alguns conhecer, os empresários brotavam, na sua maioria, de raízes humildes que conseguiram através do seu trabalho minucioso fazer florescer o seu negócio, dando emprego a quem o solicitava, e contribuindo outrossim para o incremento económico nacional, então em forte crescendo, abruptamente cessado pela ameaça vermelha. A mão visível da raiva socialista, acompanhada por nacionalizações cegas, manchou-se de sangue, pelas mortes a tiro de trabalhadores (uma execução digna da “liberdade soviética” em que Cunhal se inspirava) que ignoraram o chamamento da nomenklatura que então se erigia, agravando a situação de descalabro económico com a perseguição das elites empresariais, forçando a sua fuga para destinos pelos seus antepassados conquistados (na grande maioria, o Brasil) e o abandono de investimentos estrangeiros vultuosos que se deslocaram para o sul de Espanha. Viva a revolução! (Uma breve nota dirigida directamente à extrema-esquerda (BE, PCP, anarco-sindicalistas: leiam livros!)

Para esta geração escrevo… Viator mundi ou faber mundi?

Ao escolhemos o nosso caminho pelo ensino superior, optando pelo curso que mais aprouver (consoante a prestação de cada um no ensino secundário) estaremos a decidir por nós mesmos! Assumimos riscos, que variam consoante o curso e estabelecimento de ensino, que se farão sentir no futuro profissional, com as necessárias repercussões em todos os pontos sensíveis da nossa vida. Ponto certo é: o Estado não tem que garantir trabalho para todos os licenciados em ciências políticas, biologia, turismo etc… Digo mais! O Estado já garante empregos de mais (improdutivos), financiados por aqueloutros empregos (produtivos), que não dependendo dessa entidade abstracta, pesada e obsoleta, pertencem a particulares, cujos rendimentos sofrem uma genuína metamorfose, mutando-se em forma de receitas e depois finalmente no estado bruto de salário dos sobreditos.
Cabe aos particulares a parte decisiva de criação de estímulo laboral e económico. O Estado deve ao menos não atrapalhar. Na verdade, focando de novo, não conheço ninguém que queira (e que precise) realmente de emprego que não o encontre. Seja na carpintaria, num restaurante, numa loja, etc. O que me leva a pensar, compaginando-me com o mestre Friedman, de que todo o desemprego é desemprego voluntário, cabendo escolher entre o subsídio de desemprego (descaradamente alto comparativamente ao salário médio nacional) e trabalhar (ainda que não na área desejada) ou o nulo de rendimento. A precariedade não existe como a esboçam. Nos países da Europa Central e de Leste, as indemnizações por despedimentos são irrisórias, quando não inexistentes, a mobilidade laboral e social dinâmica, a tributação atraente para o investimento estrangeiro, a extrema-esquerda ausente! Curiosamente, são os países europeus que mais crescem.

Vejamos em Portugal, um dos países que menos cresce no cenário europeu:

 •  Além do 13º mês e supostamente 14º ,que note-se, representam o pagamento do dobro dos salários nos respectivos meses e por isso mesmo um somatório de custos inolvidável para os empregadores;

• acrescem as indemnizações mais caras da Europa

• onde o despedimento é dos mais difíceis (o que desmotiva o acto de empregar, tornando o empregador refém daqueles que emprega)

Acrescente-se outros motivos para a falta de emprego:

• A tributação sobre o IVA e o IRC asfixiante, acometendo o incentivo à produtividade, à industria;  afastando o investimento, a inovação;

• O crédito oneroso fruto da necessidade de financiamento do Estado, dos seus funcionários, das suas empresas, autarquias, levando os privados ao limite devido à falta de qualidade e responsabilidade de quem gere os dinheiros públicos.

• Os custos de energia elevam-se sem que o Estado intervenha na situação de monopólio que alimentou, tolerou e criou!

Queremos mais emprego? O caminho é flexibilizar, agilizar, apostar fortemente numa educação que nos prepare para trabalhar e esforçar sempre no limite (algo que não aconteceu connosco durante 12 anos de escolaridade!) e deixar os privados através da sua iniciativa criar riqueza, emprego e bem-estar, substituindo este Estado e os seus empregos para os meninos que apresentam certos cartões de militância e outros milhares para apresentar estatísticas e taxas de emprego agradáveis (tudo à custa de tributação sobre tributação).  
  
Que fique isto claro. O povo português na sua generalidade não é melhor que os seus dirigentes políticos. A mudança, para a melhoria, passa por nós mesmos. Aumentando a nossa produtividade naquilo que fazemos. Escolhendo melhor, esforçando-nos mais. Apelar às classes políticas uma mudança de paradigma, se nós somos forças de inércia é contraproducente em todos os sentidos. A mudança passa pela leitura, pela instrução autodidacta, pela literacia económico-financeira. Opinar sem base cognitiva nos assuntos é um hábito perigoso e ilusório.

Entretanto… Alegre-mente marchamos, ao ritmo da pauta preambular constitucional, a caminho do socialismo! 




Carlos M. G. Martins

sábado, 18 de dezembro de 2010

Sociedade e Cidadania… A Responsabilidade: filha de todos, a órfã que ninguém quer.



Sociedade e Cidadania… Afinando o tom que tem eclodido em artigos anteriores, este texto terá uma entoação mais pessoal e incisiva que as precedentes… O que, ainda assim, diga-se com franqueza, é muito mais uma questão de estilo, do que de conteúdo, mantendo-se o propósito inalterado.
Enceta, desta feita, a rubrica Sociedade (note-se, portuguesa), que será com assiduidade tomada e retomada, forjada na inquietação de quem penosamente a vê trucidada de membros fulcrais, como o são a responsabilidade, o mérito e a franqueza. Este tríplice, que compõe o corpo societário tem, aqui, como seu primeiro pilar sustentador… A Responsabilidade, filha de todos, a órfã que ninguém quer. Ladeando-a… O Mérito, parente pobre da nossa democracia, que na penúria se desvanece e pela ébria fobia das elites perece. “Last, but not least”A Franqueza, tão precisa para a colectividade (dado que constituída por uma miríade de indivíduos) como a água, todavia (e sem rodeios!) preterida pela bajulação, fecunda em penúria intelectual, embriagada em arrogância.  

A Responsabilidade: filha de todos, a órfã que ninguém quer.

Por quantas vezes terá cada um de nós, numa e noutra situação, procurando vividamente uma fonte de escape onde despejar a responsabilidade mediante erro por nós cometido?
Acontecerá, as vezes bastantes, que enquanto interna e inconscientemente (involuntariamente) admitimos que errámos, em simultâneo, interna, externa e conscientemente (voluntariamente) afastamos a responsabilidade, fruto do erro que brota de uma nossa acção.
Tendencialmente, será assim para alguns. Muitos ou poucos? Não me cabe aferir (sendo que na melhor das hipóteses, quedaria pelo execrável “atirar para o ar”). Não obstante, poucas dúvidas subsistem quanto à constância desta actuação, que fora qualquer número possivelmente aferido, tenderá para proporções que se crêem excedentárias.

Bom, indago agora… mas afinal, quais as consequências deste comportamento?

Importa destacar em primeira mão, as que apuro serem as mazelas do cerne individual. A assunção das responsabilidades que nos são imputáveis é algo que deve ser incutido, promovido e aplaudido a todo o sujeito, desde a mais tenra idade, satisfazendo uma saudável estruturação pedagógica, colocando mais um tijolo no que será o albergue de um futuro e recto cidadão.
Ora, a responsabilidade global por um erro que eu cometa, poderá ser para outros partilhada e relegada tendo em conta os múltiplos factores que potencialmente me induziram a perfazê-lo, tornando a minha acção de certo modo, parcialmente justificada. Na mesma linha direi, a escolha que eu faço, mostrando-se mais tarde errónea a meus olhos, será passível de ser apontada para culpa de outrem, porventura que omitiu, mentiu, enfim, aliciou a agir desse modo. Porém, tudo isto se minora cabalmente, sabendo inclusive, que muito felizmente, somos todos “donos da nossa vontade”, libertos de peias que entorpecerem o nosso motor de interesses, o que nos torna, em última instância, os alvos singulares de responsabilidade por equívocos próprios!
A comensurável percentagem de culpa nada importa, pois o que releva em último termo, para efeitos estruturais da personalidade, será o quanto de positivo podemos “espremer” daquela actuação errática. Quantos frutos há a colher após fertilizar o terreno antes inóspito? Dependerá certamente da forma como encaramos o erro. Nessa mesma senda, ao “limparmos as mãos” da responsabilidade que nos pertence podaremos pela raiz o que pode ser uma boa colheita e, sem margem para dúvidas, incorreremos num apadrinhamento de erros potencialmente corrosivos e limitativos para aquela que é a proeminente formação dos agentes (esperemos, positivamente) activos no seio da comunidade. Mais relevante ainda: os erros, ao desencadear consequências de vária índole, são imputáveis a quem os cometeu, emergindo em linha de conta a responsabilidade, que irá, por seu turno, conformar as fronteiras da acção do indivíduo culposo, coagindo-o a rectificar o proceder naquele específico aspecto em circunstâncias semelhantes futuras. De que serve então fugir, ignorar e despejar em outrem a responsabilidade? Apenas vedaremos os próprios olhos, tolhidos de verem a verdade, amarrando as nossas mãos, impossibilitadas de alcançar os frutos ao erro atinentes. Um verdadeiro Homem não olha a meios de se despir de responsabilidades, ele assume-as, adopta-as com coragem e de peito erguido. Só deste modo ele se tornará melhor, talhado para a vida que cada vez mais exige, paulatinamente e na medida em que avança, responsabilidades acrescidas.  
Afinal sem a (crucial auto-)atribuição de responsabilidades como poderemos nós distinguir os sujeitos merecedores de reconhecido mérito daqueles que se perfilam ociosamente vãos? Os bondosos dos perniciosos? Os produtivos dos infrutíferos?



Nesta nota avanço para a segunda plataforma de destaque de consequências desta renegação geral de responsabilidade… a nível da colectividade - da sociedade portuguesa em geral e dos líderes políticos em particular.
Pois bem, uma consequência óbvia e irrenunciável à sobredita tendência será a de que, a nível da cúpula (das podres elites), responsabilidade seja algo inaudito, bem assim, inimputável! Como a barra de exigência a ser suportada pela classe política, em democracia, será tanto mais leve, quanto menor for o comportamento auto-desresponsabilizador e laxista do povo que a elege, corresponder-lhe-á na exacta medida a espada de responsabilização. Espelha, portanto, aquela, este nosso comportamento colectivo. É aqui que encontramos o sufocante nó deste defeito: Ao não serem exigidas e auto-impostas responsabilidades no mais mundano dos comportamentos de cada cidadão, naturaliza-se o procedimento, banalmente o transformando num padrão aceite e facilmente transportado para um plano político, extraindo daqueles que nos representam, que tudo dizem fazer e que pouco constroem o “pesado” fardo de prestar contas, a não ser a benevolente (ou será inexistente?) “responsabilização nas urnas”. Aqui nos situamos. Quedamos na confusão… promovendo cobardes e ineptos a heróis e figuras de destaque.

Carlos M. G. Martins
 17/12/2010


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Tocados pelo privilégio (o xarope de sempre, para o cliente de sempre…), um atentado à saúde pública

1ª Parte

Massificou-se nos nossos tempos a consideração comparativa, de recorte pouco elegante pelo tom pejorativo, que os países geograficamente concatenados a um circunscrição espacial supra-nacional, a saber, a Europa do Sul, padecem de problemas (muito para além de conjunturais, mas isso sim, matricialmente) estruturais, genuinamente idênticos.

Valha a verdade, aqui, como na larga escala das temáticas atinentes às ciências sociais, nem tudo é tão preto, nem tão branco, para que sejam fornecidas certezas absolutas. Hoje, como ontem verificamos que predominam as zonas cinzentas, o que em jeito de ponto de rota possibilita arreigar a um paralogismo entre a classe médica italiana, sua presente posição em sede social respectiva, e seus homólogos portugueses, que em terras lusas vão, confortável e incessantemente somando vitórias. Senão vejamos… enquanto aqueles se prestam a manifestações, projectando em greves o seu descontentamento fruto dos cortes salariais, congelamento na progressão da carreira, dispensas e decorrente aumento, nessa mesma classe, do desemprego (na ordem, estima-se, das quatro dezenas de milhar), em Portugal o quadro que se vislumbra (ainda que aquele não se entenda ideal), celebra a desvirtuação, depravação dos valores, enfim, numa conjugação de cores degradante… Degradante, in casu, para uma classe política que por labirintos de retóricas opacas se (ou melhor, nos) perde, enquanto ao mesmo tempo, nos corredores de singulares (tacitamente, ora expressamente, consabidos) interesses de singulares categorias profissionais se verga (pena é, que não quebre).

Uma vez aqui chegados adiante-se: o el-dourado profissional foi encontrado em Portugal (ou será que trabalhado?), trata-se nem mais da classe dos médicos, cujos inertes guardiões se distinguem sem esforço (tamanha a desfaçatez preconizam), bem assim, ilustrativamente se enumeram:
os sucessivos bastonários dessa ordem, seus sindicatos, os docentes com funções de responsabilidade acrescida e, primacialmente, os ministros da saúde, porquanto detentores do último ditame, dotado de “imperium”, desencadeador de mudanças que urgem a surgir. Constatada tal inoperância, oriunda da anteriormente proclamada cedência ao singular interesse da classe médica, apelidam-se, desta feita, aqueles cujo particular ministério lideram, de protagonistas acéfalos, conscientemente olvidados do papel que comunitariamente têm (e não somente devem, quando isto deveria bastar!) de cumprir. Ora, optam, assim sendo, pelos trilhos traçados pelos interesses corporativamente balizados.

Neste quadro, fora aqueles cujo interesse não se gruda aos persistentes problemas  que em passo contínuo nos assombram, deparamo-nos, não raras vezes, ante erros estruturais tão crassos quanto descabidos, que (uma vez mais) o bom senso comum sanaria, dispensando para o efeito, faraónicos esforços.




A classe médica, o curso de medicina, foram colocados em tão alto patamar, que pareceram sagrados ao comum dos mortais (note-se bem o privilégio que será para todos nós, lidarmos, enquanto pacientes, com estes magnânimes profissionais!). De tal forma que os móbeis que deveriam humildemente servir de adubo para arvorar uma futura candidatura (e antecedente empenho no estudo) e ingresso numa qualquer faculdade de medicina no nosso País, foram tendencial e probabilisticamente transvertidos. Por outras palavras, as razões que se crêem idóneas para que um jovem (em sentido lato) almeje preencher as vestes de um médico, por exe o intento basilar de ajudar directa ou indirectamente quem requer de sabedoria medicinal, ou mediante participação em pesquisa inalienável para uma solução/cura de certa doença, e enfim, toda uma panóplia de outras valorosas formas de cumprimento de tão nobres objectivos, serão postos em risco, pela substituição (natural no sentido de provocar a subida do instinto de sobrevivência, conquanto ignóbil pelo societário consentimento de que tal aconteça) equacionada por transformação do diploma desse curso (que se reza pio!) em uma passagem que confere acesso a um oásis laboral português, exclusivo e pelas cúpulas protegido.

Mais claro ainda: ao permitir a escassez de vagas verificada, estilizando a oferta (de médicos) perante (cada vez) maior procura (de pacientes, arribados agora ao estatuto de clientes, como fontes de lucro) o curso torna-se procurado não necessariamente pelas sobreditas motivações, compaginados por quem apresenta o perfil e postura adequada, mas, prevê-se (e constata-se na realidade) em crescendo por quem esquadrinha status social e estabilidade laboral, altas fontes de lucro 100% garantidas!

Para cúmulo de males, multiplicam-se as perigosidades deste proteccionismo predador, na exacta medida em que se acrescentam os testemunhos de estudantes de medicina e médicos recém-licenciados, orgulhosamente firmando o ingresso no curso enquanto barreira de maior dificuldade, sendo as ulteriores (finalização de modo conveniente do curso, adequado tratamento dos pacientes, afastar longinquamente a negligência) um cabo de menor turbulência. Como é próprio do exposto, a colocação nos seguintes termos não parece (mas o devia ser) caricatura… os demais estudantes (em restantes cursos) encontram-se entre mãos com a perspectiva de, além de fazer o curso, o fazer com o melhor rendimento possível, coadunados a uma incerteza (mesmo aquando do maior proveito nos estudos) de empregabilidade laboral! No contrapólo restam aqueles, que tão-somente necessitam de lograr o diploma, sendo natural que mesmo com nota mínima as portas de um qualquer centro de saúde se lhes abram, sem necessidade de prestar contas durante o exercer de funções, degradando-se a prestação do serviço de saúde. São as leis de mercado coadunadas à natureza comodista do ser humano, tendencialmente facilitador, em especial quando não pressionado ou alicerçado numa convicção estruturante de serviço público, qualquer seja a natureza que se lhe reveste.





Criou-se uma elite, deturpou-se o critério de aceitação, que em mais do que em qualquer outro curso deveria ser estabelecido de acordo com indícios de benfeitoria, como se disse, postura, predisposição (não desprezando em nada o importante elemento de esforço fundamental, o estudo).


2ª Parte

Todos os anos, confrontados com facto de que o curso de medicina não quebra passo, para desespero de muitos e variados, enquanto aquele que maior média requer; nos presenteiam os guardiões da classe profissional dos médicos, suas razões para ela se manter nessa teimosa e surreal fasquia. Entre as razões difundidas lá se encontrará a afirmação de que não existe falta de médicos em Portugal, gizando mesmo o contrário… Em seu crer, a carência dever-se-á, portanto, a uma má concebida estruturação do sistema, que se revela inapto ao aproveitamento aceitável dos recursos humanos. Pior, sustentam ainda que uma eventual anuência de aumento de vagas desembocaria, de imediato, na precarização da situação laboral dos médicos existentes…

Ora, que afronta! Têm os médicos alguma prerrogativa intelectual que lhes permita visionar, salientar, factos que à luz dos demais cidadãos traduzem uma constante no seu quotidiano, na sua realidade? Que pensam aqueles da actual situação de mercado laboral destes? Será que as restantes classes profissionais conseguiram impedir, ou melhor, estancar por completo a proliferação de cursos, amiúde, em privadas sem critério de exigência devido, impulsionando a multiplicação de diplomados nessas áreas? Bom… veracidade acima de tudo: Não. E de contrário? Puderam os médicos fazê-lo? Mesmo quando o mercado urge em contratar “doutores” da Venezuela, Angola, Moçambique, Ucrânia (e saberá Deus de onde, como e em que termos!)? É certo que, ontem, como hoje, fizeram-no, fazem-no, e continuarão a fazer!     

Adiante! Não obstante tudo isto, afastando a mira deste procedimento erróneo que encerra a dualidade de critérios (médicos para um lado… tudo o resto, para outro), que por muito esforço que empregue para sua compreensão, insisto em não o conseguir… a gota final respingou na presente semana (primeira de Novembro). Antecipo desde já, o tempo torna o excesso demasiado evidente para ser suportado toleravelmente, e como tal, não será com paninhos quentes, de que se mascaram argumentos de desenvolvimento pueril, que a colectividade deixará de rasgar os véus que ocultam a verdade.

Em realce são deixadas as recentes considerações tecidas por Ana Jorge, Ministra da Saúde, membro do Governo PS, que em período de amplo arquejo societário, onde se procede (talvez não) tendo em vista a contenção de modo a sanear as finanças públicas e dos particulares, produzindo um corte geral nas progressões, salários, e acumulações de fontes de rendimento (pensões, por vezes várias; subsídios em aditamento de salários) eis que conservaram o melhor desfecho (não anunciado) para um adulado fim… declara-se (pela boca de uma médica, coincidência, ou não, quem sabe?) a excepção, pois está claro, aos médicos, em seu paraíso intangível: Podem aqueles médicos presentemente reformados, voltar ao activo, sendo garantido que existirá o aditamento à pensão que hoje auferem, de um vencimento, salário, por inteiro. Voilá, Justificação? Sem novidade: a “comprovada falta de médicos”. Com profissões assim, quem precisa de adivinhar a chave do euro-milhões?    

                                                                                       Carlos M. G. Martins

Petição para a extensão do horário de funcionamento da Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, aos Sábados, até às 20:00 horas.


Elaborei esta petição para a finalidade supra mencionada. Lê, assina e participa se assim entenderes


Destinatários: Exmo. Sr. Presidente da Câmara de Leiria; Exmo. Sr. Vereador da Cultura da Câmara de Leiria  


Fazendo jus aos direitos consignados pela cúpula do ordenamento jurídico nacional, maxime, a Constituição, em seu art. 52º e decorrente legislação ordinária, intenta cumprir a presente petição o desiderato de seus signatários, que se fixa, reiterando-se o supracitado: no prolongamento do horário de funcionamento da nossa Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, aos Sábados, até às 20:00 horas.
Fundamenta-se a ampliação da duração deste mediante a apresentação das seguintes considerações:
1-    O seu fecho às 18:00 horas implica a cessação das actividades laboriosas de incremento da intelectualidade que se alcançam precisamente dentro do respectivo edifício. Os que por lá se encontram, tendo presumivelmente optado por render a tarde (amiúde, dia!) àqueloutras actividades, avistam destarte, em tempo precoce, sua concentração e possibilidade de continuação de absorção de conteúdos, interrompidos. Assenta-se na crença de que o aditamento das duas horas propostas potenciará, de forma significante (e sem onerar em demasia os funcionários) a produtividade dos laboriosos, sendo que de contrário e a manter-se o horário, pecará por prematuro o fecho, quedando os cidadãos sem possibilidade de máxima afectação do recurso, que satisfaz o interesse público de insigne valor, a cultura, que indubitavelmente se presenteia nessa biblioteca e, bem assim, impreterivelmente, lhes pertence;   
2-    Outrossim, não se deve menoscabar o facto de que, de Segunda a Sexta-feira, o horário de encerramento coincide em termos exactos com o que por esta via se propõe. A racionalidade de escolha deve ser criticamente decomposta pela acepção de que é no Sábado que, grande parte, senão mesmo a maioria, dos cidadãos do munícipe leiriense, mormente, trabalhadores, estudantes (em especial aos que, nos vários níveis de ensino, estudam fora de Leiria) e (por que não?) visitantes, nele se encontram, e, devenientemente, o único dia da semana no qual podem fruir das ofertas múltiplas que a Biblioteca contém, já que durante os Domingos esta se encontra encerrada, estando em manifesta e desnecessária desigualdade com os demais.
Vale por isto dizer que será por senso comum que se conclui, portanto, pela possibilidade de transferência de duas horas de um qualquer dia durante a semana (podendo, por exemplo, ser aferido com minúcia qual o dia menos solicitado) para o Sábado, senão mesmo pelo idílico, puro e simplesmente, adicionamento de duas horas às demais já hodiernamente disponíveis. Trata-se de uma questão de equidade, coadjuvando aqueles que apenas aos fins-de-semana (leia-se, ao Sábado) se podem dedicar, nesta nossa bela e rica Biblioteca, aos vários ramos do saber. Decorre do exposto, não a ostentação de um capricho para alguns, mas genuinamente do sentimento de ónus, de incremento e valorização da Cultura, meritória de todo o diligente esforço para sua idónea edificação, sendo esta apenas mais uma pedra para a ajudar a edificar, em uma cidade fantástica, mas que dela bem carece.  
Os signatários

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A Tessitura do aparelho partidário socialista


Deparo-me ante um artigo(1) cujo conteúdo deve ser objecto de excogitação. Em tempos de austeridade, em que se utiliza amiúde, e desta feita, se banaliza, a acepção de soberania e de interesse nacional, para efeitos de anestesia social, desenha-se aqui um esboço para destrinçar a (in)capacidade de investimento idóneo e, por outro lado (no fundo, da mesma face) o despesismo que este Executivo preconiza.

Não querendo incorrer em repetições, todos temos ouvido e lido que o contribuinte do Portugal hodierno padece do maior estrangulamento ao seu poder de compra (e por conseguinte, capacidade de aforro e de investimento) das duas últimas décadas, devendo-se este facto ao avultado e generalizado aumento da carga fiscal. Estou em crer que bastaria a constatação da situação de dependência do crédito estrangeiro por parte de significativa fatia dos operadores económicos nacionais, para que a os cidadãos (que indagam e procuram perceber o que afinal se passa, excluído deste leque as centrais sindicais) compreendessem o porquê, e (penso) até aceitassem, esta parafernália executiva na forma de impostos directos e indirectos e diminuições nas deduções fiscais. Acontece, no entanto, que o PS do Sr. Eng. Sócrates e o pesado aparelho Estatal que com(o) ele vai se arrastando, decidiram, certamente na sua (esbanjadora) inocência, exemplificar como “velhas” (talvez sempre actuais) posições doutrinais, podem nos dias de hoje fazer algum sentido (saliente-se, num contexto de tamanha incongruência governativa!), ou pelo menos merecedoras de um foco reflexivo.
Revocando de Adam Smith e seus ensinamentos, poderia o governo adquirir preciosos saberes de modo a melhor dirigir a nossa “res”pública, atenuando consequentemente a sua latente inépcia governativa. Em riqueza das Nações, sua obra oitocentista, já tinha tecido criticas à política económico-financeira portuguesa, e se fosse vivo poderia voltar a faze-lo. O economista e filósofo escocês apontaria o dedo a uma chefia que insiste no sustento dos improdutivos, e no investimento infrutífero e/ou estapafurdiamente desnecessário, custeando-os através daqueles que trabalham. Ademais! Aquilo que honestamente auferem os contribuintes portugueses será, indirectamente (na consciencialização) mas necessariamente vilipendiado pelo adstrito pagamento perpetuador de uma taxa de IVA de 23% em produtos basilares (daí o adstrito e necessário) na alimentação de qualquer família.
Aponto o dedo de modo geral à persistência na feitura das linhas de alta velocidade para o TGV, à terceira travessia sobre o Tejo, ao Aeroporto (até aqui nada de novo), e em particular ao gasto de 1,5 MIL MILHÕES de euros no processo de modernização da Força Aérea Portuguesa. De soslaio já parece suficientemente ridículo, mas se esquadrinharmos um pouco mais no que consiste este, digo, puro despesismo estéril, e não “investimento” como o querem apelidar, só posso concluir que o PS de José Sócrates é o paradigma da incongruência formal e material.
Senão vejamos. Os 120 milhões dispendidos para efeitos de modernização dos cinco aviões P-3C CUP holandeses comprados em segunda mão (pelos quais já tinha o Estado português dispendido 80 milhões); o custo proveniente da modernização em curso dos F-16, desembolsando o Estado 500 milhões de euros (os quais pagos pelos portugueses que trabalham e não fogem ao fisco), aos quais acrescem outros tantos (sublinhe-se muitos) milhões, oriundos da compra de 12 aviões de transporte C-295 e helicópteros ligeiros e, ainda, o reequipamento dos C-130, foram reputados de “urgentes” pelo competentíssimo Ministro Augusto Santos Silva afirmando que "Não se gasta muito dinheiro, faz-se o investimento estritamente necessário para a defesa militar da nossa soberania.”, sendo que do ponto de vista utilitário deste (des)governo, todo este “investimento”, de grosso modo se justificará pelo combate (intensíssimo) à imigração ilegal e ao tráfico de droga.
Cumpre agora arreigar a três interpretações possíveis a estas afirmações e justificações. Primeiro a pueril especulação de que o Governo descobriu, fora do conhecimento de todos nós, que os imigrantes ilegais tentam agora entrar pela faixa costeira portuguesa, com navios de guerra, submarinos, ou seja, apetrechados com armas letais, sendo então imprescindível retorquir com o esforço bélico supra descrito. A segunda remete para a possibilidade de que este Executivo padece de um grave caso de dupla personalidade, em que de um lado procura transparecer muito sofrimento por impingir tal sobrecarga fiscal aos seus cidadãos, insistindo na ideia de que tudo isto é necessário e está a ser feito com conta, peso e medida, contendo, respectivamente, a despesa, mas que de outro, estes “investimentos” são absolutamente fulcrais”. Em nota de rodapé, caso fosse munido de capacitação atestadora médica, teria de incentivar o paciente a optar por sua proeminente aposentação. Finalmente a última hipótese, e a mais viável (não sendo incoadunável com a segunda interpretação), este Governo não tem competência para liderar um país como Portugal, que continua a sofrer incestuosamente nas mãos de quem ascendeu a cargos que só deveriam estar disponíveis aos competentes.
 Assim permaneceremos, deixando (sem opções viáveis) nas rédeas do poder, “os políticos profissionais”, (e profissionais não pela sua capacitação, mas pelo reconhecimento de que tais indivíduos na actividade profissional não exerceram (substancialmente) outras funções do que as oriundas do mundo político, a que se acrescenta a agravante de alguns deles, enfim, colocados na cúpula partidária, não apresentarem um percurso académico correspondente aqueloutros cargos. Continuaremos nesta esteira até que consigamos atrair as “almas” mais habilidosas e dotadas de capacidade intelecto-cognitiva.   
Desviando um pouco o alvo, mas mantendo o ponto de focagem, pergunto… Não haverá nas forças armadas alguém com suficiente bom senso para propor o congelamento destes processos de modernização? Tantos Generais com salários e futuras pensões de sonho para quê? Já Adam Smith dizia… enquanto alguns países escolhem investir nos produtivos e em obras com retorno, outros preferem despender os seus recursos na manutenção de exércitos opulentos, sem nexo, em tempo de paz, e no sustento daqueles que nada fazem para melhorar esta realidade.
Tudo isto depois do Sr. Primeiro-Ministro, em todos os embates que teve com o Sr. Deputado Paulo Portas, se ter refugiado na aquisição dos dois submarinos, que a bem ou a mal, diga-se, foram encomendados numa conjuntura um pouco (mas o bastante) diferente da que vivemos hoje.
Em suma, na senda de Smith, dir-se-á que “constituirá a maior das impertinências e presunções” que um Estado, leia-se, Governo (seus ministros e órgãos restantes) queira(m) superintender, desta forma, “a economia dos particulares, e de restringir as suas despesas” … Ministros e seus sustentos (secretários, consultores etc etc) já amplamente reputados por Smith, de maiores esbanjadores e fontes de despesa estéril existentes num território soberano.  


(1) - Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1679583

Carlos M. G. Martins